quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Coralina segurou firmemente no trinco da porta, mas pareceu que todas as suas forças lhe deixaram, ali, naquele momento. Ela não entendia muito bem o que acontecia com seu corpo, mas parecia que ele era puxado cada vez mais para dentro de casa, pro interior de seu quarto. Foi aí que se recolheu à cama e voltou a dormir. Lá era mais seguro.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Dos amores de mulher I existe uma fábula que é repassada de ouvido a ouvido, há muito tempo, de que uma das mais belas mulheres se jogara do penhasco de uma ilha aspirando o amor de seu amado pirata que a abandonara. piedosa, afrodite intercedeu em seu favor e lhe deu guelras no lugar do pescoço, bem como uma cauda no lugar das pernas. a mulher, chorosa, não entendeu sua transformação e e perguntou a afrodite: - por quê, minha senhora? por quê me livrastes do sono eterno? tudo que eu queria era me juntar ao meu amado... afrodite, cada vez mais compadecida, jurou à criança que a guiaria até o seu homem. dias passaram pelos mares, até se aproximarem do próximo continente. lá, ele estava rodeado por dois garotos e recebia o mais tenro beijo de uma estranha que não era ela. inconformada, a mulher jurou a afrodite que o faria pagar, por tê-la feito esperar, por tê-la feito amar alguém bem mais que a si própria. afrodite, então, escarneceu. - não, minha criança. a culpa não é de quem se fez amar, mas de quem ama. não deve você culpar os outros pelas decisões que tomou. trouxe-te aqui para ver que seu amado se encontra feliz, e que segue com sua vida, justamente para que você possa fazer o mesmo! nesse momento, o homem se dirigiu ao navio e preparou-se para partir. - vem, criança. levar-te-ei de volta à casa e te embalarei no sono dos deuses. dar-te-ei qualquer homem que desejar e te levarei aos confins do maior palácio da terra, se assim quiser. apenas desista desse amor que não te corresponde. é essa a prova que lhe faço. a mulher olhou enquanto o homem se distanciava mar adentro em seu navio. observou, então, sua cauda. tocou suas guelras com as pontas dos dedos, e percebeu que se realmente quisesse passar a eternidade ao lado dele, jamais poderia desistir desse dom. olhou afrodite como uma mera pecadora, virou-lhe as costas e nadou. nadou. nadou. em direção ao navio. afrodite, irresignada, não sabia como responder aquele sentimento. humanos e suas emoções eram coisas que ela jamais seria capaz de compreender e eram justamente esses momentos que a faziam perceber isso. - ouviu, Cora? foi assim que nasceu a primeira sereia. apenas uma mulher que se perdeu no mar em busca de um amor que jamais alcançaria. - mas, papai, essa não é a estória da pequena sereia... - não, minha filha, essa é a estória de uma mulher que amou demais alguém, porém não se amou o suficiente para continuar com a própria vida. - mas não é uma fábula? - sim, meu amor. - então, qual a moral? - hahahaahh. minha querida, a moral é que você tem que amar, intensamente, profundamente, até os confins de si, mas sem jamais perder a noção de amor-próprio. - mas, papai, eu não entendo... - não se preocupe, minha querida. você é mulher. está fadada a escolher em determinado momento. porque os homens têm coração frio, e você, meu amor... você nasceu com um coração puro e pronto para sofrer. - ãhn? - nada, querida. durma. durma e sonhe com o reino de atlantis. você vai precisar.

sábado, 19 de outubro de 2013

amor de pai

Cora, minha querida, apazigue seu coraçao. como já dizia Carlos, hoje beija, amanha nao beija, depois de amanha é domingo e e segunda feira ninguém sabe o que será. entao, sossegue, meu amor. de nada importa essa angústia sufocante a que te prendes. nenhum proveito lhe trará se agarrar a esse amor que tanto te rejeita. entao, meu amor, chora. chora esse desgaste pra longe do seu coraçao. porque quando um sabe, e o outro se queixa, é porque nao é pra ser. é porque tem algo melhor que lhe é guardado. nao, nao é o fim do mundo. eu sei que parece, mas nunca é. é mais um coraçao partido. é mais um musculo reforçado. cria asas, Cora. cria asas e procura aquele que vai te amar aos confins, porque Ele está lá, porque Ele está te esperando, e eu também estarei lá, minha criança, aguardando ansiosamente que voce concretize esse seu sonho de família própria. sê, vê, crê, que se realizará. mas sonha. sonha bem alto. seja Ícaro em toda a sua confiança, e jamais deixe esse seu jeito doce de amar, porque é essa sua candura que fará com que Ele saiba que é você a responsável pela felicidade d'Ele, e que uma existência sem você é algo sem sentido. nao, criança. sei que você crê estar vivendo esse momento agora, mas és tao jovem. antes de se perceber, estará entregando teu coraçao a outro, que pode ser Ele, pode nao ser. a vida tem dessas mesmo. o que resta é paciência, e muita ânsia de amar.