quarta-feira, 23 de outubro de 2013
Dos amores de mulher
I
existe uma fábula que é repassada de ouvido a ouvido, há muito tempo, de que uma das mais belas mulheres se jogara do penhasco de uma ilha aspirando o amor de seu amado pirata que a abandonara. piedosa, afrodite intercedeu em seu favor e lhe deu guelras no lugar do pescoço, bem como uma cauda no lugar das pernas. a mulher, chorosa, não entendeu sua transformação e e perguntou a afrodite:
- por quê, minha senhora? por quê me livrastes do sono eterno? tudo que eu queria era me juntar ao meu amado...
afrodite, cada vez mais compadecida, jurou à criança que a guiaria até o seu homem.
dias passaram pelos mares, até se aproximarem do próximo continente. lá, ele estava rodeado por dois garotos e recebia o mais tenro beijo de uma estranha que não era ela. inconformada, a mulher jurou a afrodite que o faria pagar, por tê-la feito esperar, por tê-la feito amar alguém bem mais que a si própria. afrodite, então, escarneceu.
- não, minha criança. a culpa não é de quem se fez amar, mas de quem ama. não deve você culpar os outros pelas decisões que tomou. trouxe-te aqui para ver que seu amado se encontra feliz, e que segue com sua vida, justamente para que você possa fazer o mesmo!
nesse momento, o homem se dirigiu ao navio e preparou-se para partir.
- vem, criança. levar-te-ei de volta à casa e te embalarei no sono dos deuses. dar-te-ei qualquer homem que desejar e te levarei aos confins do maior palácio da terra, se assim quiser. apenas desista desse amor que não te corresponde. é essa a prova que lhe faço.
a mulher olhou enquanto o homem se distanciava mar adentro em seu navio. observou, então, sua cauda. tocou suas guelras com as pontas dos dedos, e percebeu que se realmente quisesse passar a eternidade ao lado dele, jamais poderia desistir desse dom. olhou afrodite como uma mera pecadora, virou-lhe as costas e nadou. nadou. nadou. em direção ao navio.
afrodite, irresignada, não sabia como responder aquele sentimento. humanos e suas emoções eram coisas que ela jamais seria capaz de compreender e eram justamente esses momentos que a faziam perceber isso.
- ouviu, Cora? foi assim que nasceu a primeira sereia. apenas uma mulher que se perdeu no mar em busca de um amor que jamais alcançaria.
- mas, papai, essa não é a estória da pequena sereia...
- não, minha filha, essa é a estória de uma mulher que amou demais alguém, porém não se amou o suficiente para continuar com a própria vida.
- mas não é uma fábula?
- sim, meu amor.
- então, qual a moral?
- hahahaahh. minha querida, a moral é que você tem que amar, intensamente, profundamente, até os confins de si, mas sem jamais perder a noção de amor-próprio.
- mas, papai, eu não entendo...
- não se preocupe, minha querida. você é mulher. está fadada a escolher em determinado momento. porque os homens têm coração frio, e você, meu amor... você nasceu com um coração puro e pronto para sofrer.
- ãhn?
- nada, querida. durma. durma e sonhe com o reino de atlantis. você vai precisar.
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