sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Expectativa. Toda noite era cheia de expectativas e esperanças e desejos quase sempre não correspondidos ao final, mas que era o que a movia. Dezesseis anos, e tudo que queria era ficar ali, estável, naquela constante energia de ir para a escola, fingir aprender, fingir socializar, deixar tudo pra trás, se perder nas ruas e becos daquela cidade tão quente para encontrar seus amigos em qualquer casa abandonada e relaxar ao som de Crystal Castles, enquanto experimentava a nova mistura de João.

João era um cara legal. Muito inteligente, mas daquelas inteligências peculiares, para fazer coisas erradas, digamos. Ele não trabalhava, nem estudava, morava com sua mãe, que trabalhava à noite nas ruas da Beira-mar e dormia o resto do dia. João tinha apenas um talento: misturas. Não sei como, mas ele conseguia pegar qualquer droga e misturar de formas loucas que potencializavam o efeito da forma como ele quisesse. Graças a ele, tive a melhor trip da minha vida com ácido modificado. Sou grata até hoje.

- Eae, John! Beleza? - eu disse em tom jocoso.

Ele me olhou das pernas até os seios (ele sempre parava nos meios seios por um milésimo de segundo... ou dois, rs), sorriu um sorriso sacana e, ao pegar minha mão, puxou-me para si:

- Diga lá, Cora! Não vai me dar um beijinho de boas-vindas, não?

Ele tinha acabado de voltar. De onde? Ninguém nunca sabe ao certo. Ele sempre sumia por alguns dias, às vezes semanas (era a época em que nos concentrávamos nos estudos, dependendo da sua definição de concentrar), e sempre voltava com coisas muito boas para que nos divertíssemos. Mas, eu não dava mole. Não para ele. Apesar de gostar dos seus bagulhos, eu não gostava dos seus bagulhos, se bem me entendem.

-Quê isso, brother?! Já pode ir me largando, viu?! Ou você quer que eu fale pro Augusto? - eu levantei a voz, de modo a demonstrar minha seriedade.

João apertou os olhos e fechou a expressão. Augusto era meu poder. Augusto era minha propriedade. Era ele quem "fornecia" para João, e era ele quem não deixava um homem sequer me tocar (pelo menos que ele soubesse). Pode parecer o inverso, que eu sou apenas uma de suas vadias, e que eu faria qualquer coisa pra cheirar o que quer que ele me trouxesse. Mas, não. Eu não transava com ele. Apenas isso. Sim, eu ainda era virgem. Ou pelo menos era o que dizia pra ele.

- Cara, pra quê essas agressividade? Eu tô só pedindo uma recepção de boas-vindas... - ele falou, largando-me e baixando a voz.

Eu me aproximei de seu rosto, dessa vez, e lhe segurei o queixo com a mão direita.

- Eu te conheço, John. Se eu desse espaço pra te dar boas vindas, você provavelmente já estaria tentando enfiar a mão dentro do meu short. - eu disse em uma expressão séria.

Ele sorriu, canalha, e ficou calado. Eu sorri, deitei-me num sofá velho que tinha na sala, e mudei para um tom mais alegre, extático.

- Então, me diz, coelhinho da páscoa, o que trazes pra mim?

Ele continuou sorrindo, levantou-se, veio em minha direção, encarando-me, chegou perto do meu rosto, levantou a blusa com a mão esquerda, mostrando... não, exibindo seu tanquinho musculoso, macio e branco, pôs a mão direita dentro da calça (eu continuava o encarando, embora desejasse muito olhar para a parte que ele remexia), e depois de um tempo me provocando, retirou um pacote de plástico com alguns comprimidos azuis dentro. Eu, agora, olhava para as pílulas azuis.

- O que é? - indaguei, excitada, enquanto ficava de joelhos na poltrona.

Ele apenas continuou com o mesmo sorriso sacana (e embasbacado) e me disse, enquanto tirava um do saquinho, engolia, e me oferecia outro:

- E eu vou estragar a diversão?

Deixei ele botar o comprimido em minha boca enquanto tentava fazer seus olhos não desviarem dos meus. Eu estava no controle. Ele era meu. Ele faria o que eu mandasse, quando eu mandasse, porque ele queria me comer. Era essa a verdade pura e simples.

Ele sentou na poltrona encardida ao lado do sofá e eu me deitei, espreguiçando-se, enquanto observava as cores se multiplicarem diante de mim e me envolverem em ondas de calor comedidas até o momento em que não existiam mais.

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